Ingestão de Óleos Essenciais: 5 motivos para não aderir à essa moda
- Lúcia Fernandes Bonito
- 22 de ago. de 2016
- 5 min de leitura
A ingestão de óleos essenciais é um tema que há muito me preocupa, podendo tanto ser fruto de falta de instrução de algumas pessoas ao se recomendar os óleos essenciais como também pelo marketing falso que propaga que tudo o que é "natural" não tem efeitos colaterais e é "bom", "seguro".
Existem riscos em aromaterapia e não podemos fazer vista grossa para eles. Não adianta publicar uma informação com embasamento científico se não há a preocupação em como o público leigo irá receber e utilizar essa informação. Uma coisa é provar que um óleo tem X propriedades terapêuticas dentro de um contexto Y. Outra coisa é recomendar tal óleo por suas propriedades sem levar em conta o contexto da vida e histórico de saúde daquele indivíduo para qual se recomenda. 1. Proposta visa o retorno econômico e não a Saúde.
Apesar da forte propagação de pesquisas científicas comprovando a ação dos óleos essenciais, eficácia e inclusive a substituição de medicamentos alopáticos (acontece em outros países). Não vemos o mesmo entusiasmo e direcionamento para a educação em saúde. Recentemente uma marca, influente nesse mercado no Brasil, divulgou uma pesquisa sobre a ingestão do óleo essencial de lavanda em substituição à medicação de ansiedade.
Veja bem, ansiedade é um diagnóstico clínico que é dado por um profissional de saúde capacitado (psicólogo ou psiquiatra). Ansiedade não é apenas se você se reconhece com o sentimento de impaciência e urgência em realizar alguma atividade. Poucos dias após a divulgação de tal pesquisa na rede social, houve diversas curtidas e comentários de pessoas querendo adquirir o produto em uma normalidade assustadora. Afinal foi divulgado como um produto natural que não tem "efeito colateral", comprovado "pela ciência". Houve respostas da empresa quanto onde comprar os produtos, mas nenhuma advertência à procurar um profissional capacitado, não fazer o auto-diagnóstico e auto-medicação.
Não irei citar a marca por questões éticas e por que meu intuito aqui não é ditar guerra contra as empresas, mas sim deixar os "clientes" mais atentos.

2. Existem riscos - inclusive fatais
Os óleos essenciais não são o mesmo que essências sintéticas ou cheirinhos que você compra em qualquer lugar. Eles são o produto resultante de métodos de destilação, expressão a frio ou enfleurage de plantas aromáticas. São ricos em princípios ativos e possuem muitos componentes químicos (apesar de ser natural, tudo nesse mundo físico tem química) em sua composição. As propriedades e ações do óleo variam de acordo com a planta utilizada.
3.000 (três mil) limões são necessários para fazer um único litro de óleo essencial. Imagine a concentração destes compostos: em um único vidrinho de 15ml de óleo essencial, um vidro mais ou menos do tamanho do nariz de um adulto que tem nada mais nada menos que o óleo de 45 limões. Com a inalação e a aplicação tópica (diluída em creme neutro ou óleo vegetal) já há efeitos a nível fisiológico. Imagine direto nas mucosas corporais internas? No caso dos óleos de limão sciliano e de limão tahiti, eles não podem ser aplicados diretamente sob a pele, só sob diluição em creme/óleo. Imagine ingerir uma gota, o estrago que faria?
Vale lembrar que um dos principais efeitos adversos dos óleos na ingestão é a irritação da mucosa provocando queimaduras e bolhas em toda boca e trato digestório. Isso pode acontecer inclusive quando o óleo já está diluído em uma cápsula de óleo vegetal. Imagine sem essa diluição? Alguns efeitos adversos são citados também por Vera Guedes, renomada aromaterapeuta e educadora na área: "A ingestão de alguns OE têm provocado convulsões, visão turva e, em alguns casos, fatal."
Para escrever esse tópico, eu estou considerando os óleos essenciais de boa procedência, mas sempre é bom lembrar que existe as "falsificações" no mercado, óleos adulterados de todos os tipos. Vou escrever mais sobre os riscos dos óleos adulterados em breve.

Cuidado, dietas "detox" da web que recomendam ingestão de óleo essencial podem te deixar intoxicado. Na pior das hipóteses é melhor chupar um limão orgânico! 3. O auto-diagnóstico e auto-medicação não valem para aderir Já falado no item 1., ansiedade e depressão são diagnósticos clínicos. Outras moléstias, sejam físicas e ou psíquicas devem ser avaliadas pelo profissional de saúde adequado a tais competências. Existem muitas contra-indicações em aromaterapia. Cada óleo tem uma propriedade e uma forma de ação. Alguns aumentam a pressão arterial, outros diminuem, alguns tem alta toxidade e não podem ser aplicados na pele.
Histórias tristes sobre isso não faltam! Começa com Sr(a). Fulano(a) lendo na internet que tal óleo é recomendado para dor nas costas e resolve fazer uso. Mas não sabia que aquele óleo era contra indicado para hipertensos e tinha interação medicamentosa com X medicamento que ele fazia uso. Leu que era "natural" e experienciou um momento crítico no pronto socorro depois.
Apesar de existir o livre-comércio dos óleos essenciais no Brasil. Apenas pessoas com conhecimento científico de aromaterapia e funcionamento básico de fisiologia, patologia e farmacologia, -na minha opinião e percepção - deveriam fazer uso dos óleos essenciais por conta, e nesse uso entenda-se o uso tópico dos óleos. A ingestão eu não faria por conta própria e não recomendo.
Sem supervisão, não é para todos. Ainda mais na sociedade em que vivemos, que culturalmente não tem nem o hábito de ler a bula e não respeitam as doses dos remédios.
Um exemplo que elucida essa questão foi a proibição do livre comércio dos antibióticos. O mau uso deles estava gerando bactérias resistentes e muitos danos à saúde da população. A solução para resguardar a saúde dessas pessoas foi apenas vender o fármaco com retenção de receita médica.

4. A comparação com a Europa pode não ser positiva Com a divulgação das pesquisas, é propagada a ideia de que países desenvolvidos como a Alemanha e a França recomendam a ingestão dos óleos essenciais e que somos atrasados por não segui-los. Como também alguns discursam na linha das teorias de conspiração sobre como estamos negando um tratamento milagroso e natural para nossa população. (Fala sério!)
Nos países da Europa existe uma cultura diferente de se entender e fazer saúde. É ensinado nas escolas o básico das matérias biomédicas. Todos sabem como funciona o corpo humano e como agem os fármacos. As pessoas tem o costume de ir ao profissional de saúde, realizar exames e acompanhamento. Quando tomam um medicamento, eles lêem a bula! São diversos fatores que contribuem para o sucesso da ingestão de óleos essenciais na Europa, o acompanhamento com o profissional de saúde e a regularidade dos exames fazem parte e mesmo assim não se usa os óleos como bala, regularmente... e sim regradamente! Existe um cuidado e responsabilidade com essa tema.

5. Autoridades do no assunto recomendam cautela e bom senso. Deixo algumas observações de pessoas que são referência em estudo da Aromaterapia (leia de novo: em estudo e não em vendas!).
No Brasil temos a ilustre Vera Guedes, você pode ler o que ela já escreveu sobre o assunto clicando nesse link.
Mundialmente temos Robert Tisserand, autoridade respeitadíssima no assunto. Ele defende o uso seguro e responsável dos óleos essenciais. O assunto também já foi comentado indiretamente por ele em seu próprio blog. Leia aqui (em inglês).
Para finalizar, deixo traduzido as recomendações de segurança acerca das diluições dos óleos essenciais (original em inglês, clique aqui):
Cosméticos Faciais 0.2-1.5% Massagem Corporal 1.5-3% Produtos para Corpo & Banho 1-4% Problemas Específicos 3-10% Dores e Feridas 5-15% Acne, mordida de insetos e infecção fúngica nas unhas 25-100% (Varia de acordo com o óleo utilizado. Apenas lavanda e melaleuca podem ser utilizados sem diluição, ou seja 100%).

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